sexta-feira, 8 de abril de 2011

Um dia frio, e sangrento


      Despedi-me de minha mãe beijando-a na testa enquanto dormia, ela sorriu ainda de olhos fechados. Peguei minha bolsa e meu casaco, a sala de aula não costumava ser tão fria, sai rumo ao colégio, estava muito ansiosa, hoje ficaria com o garoto mais lindo da classe, o Roberto.
         Á uns vinte metros do colégio avistei minhas amigas, fui em direção a elas quando ele, com aquele sorriso inexplicavelmente perfeito, os olhos verdes esmeralda fixos nos meus interceptou-me e disse: Preciso falar com você...  Na saída!
         Contava os minutos a cada segundo, o tempo não passava, e a agonia tomava conta do meu corpo, as unhas, já não restava nada. Tentava prestar atenção na aula de matemática, mas os números se entrelaçavam na minha cabeça e o subconsciente passava a ser o consciente. Tudo voltava ao que ele havia me dito, não tinha idéia do que ela queria dizer-me, ou fazer, mas não importava, ouvir sua voz quando falava com a professora já me tranqüilizava.
         No intervalo o observava de longe, via que ele também olhava-me a todo instante. Conversei bastante com a Larissa e a Rayanne, nesse momento consegui esquecê-lo por um instante.
         O intervalo acabou e todos retornaram as salas. Pedi a uma menina para trocar de lugar para ficar mais perto dele. Tudo estava tranqüilo quando um homem estranho entrou pela porta, ele portava duas armas, uma em cada mão. Todos, ao verem as armas se assustaram. Ele falou calmamente que queria que cinco meninas e um menino se levantassem e ficassem de costas para ele em fila. Ninguém se levantou, então ele apontou para cinco meninas, eu era uma delas. As lágrimas caíam exageradamente dos meus olhos, fiquei de costas, tudo passou pela minha cabeça, a minha mãe sorrindo, o amor que tínhamos uma pela outra, o Roberto, que também foi escolhido pelo homem. Não tive muito tempo para pensar, houve o primeiro disparo, a menina ao lado caiu no chão, todos gritavam, enquanto ele tranquilamente mirava em minha cabeça e...
         Uma grande luz invadiu a sala quando de repente eu estava atrás do psicopata, o vi atirando nas outras três garotas e no Roberto. Mas o que estava acontecendo, meu corpo estava no chão, ensangüentado. O Roberto agora estava ao meu lado, observando aquela situação, onde todos corriam desesperados, chorando, chamando pelas suas mães.
        O homem se dirigiu a sala ao lado, no caminho recarregou a arma, e então, sem esperar muito, atirou em mais seis alunos. Eu continuava chorando e sem entender, eu estava morta? Pensei novamente em minha mãe, ela ainda devia estar dormindo, talvez sonhando comigo, no meu futuro. O futuro que acabou em um segundo, por uma pessoa desequilibrada, sem sanidade mental suficiente para ter noção do que estava fazendo, tirando a vida de pessoas indefesas, sem ter nada a ver com os problemas dele.
         Vi a minha mãe na frente do colégio, ela chorava muito, chamava pelo meu nome. Ela não obteve resposta.
         Uma enorme angústia invadiu o meu coração. Mas ele estava ao meu lado, enxugando minhas lágrimas de dor, quando olhei para ele e vi algumas gotas caindo na maçã do seu rosto.
        A luz reaparecera, desta vez no fim dela vinha um homem alto e forte, com asas, ele disse para irmos com ele, que para onde iríamos é um lugar melhor, sem os sofrimentos que existem na terra, e que de lá veríamos nossas famílias. Mas eu preferia não ver a minha mãe, vê-la chorando doía ainda mais do que saber que estava morta.
         Aquele dia ficou para sempre em minha memória.

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